20 de set. de 2013

Em entrevista ao Jornal Daqui, Lira fala, de maneira direta, das suas preocupações com a cidade de São Sebastião


O entrevistado do Jornal Daqui desse mês é Ivonildo Di Lira ou simplesmente Lira, como é mais conhecido, de origem humilde, nasceu há 12 de abril de 1962, em São Rafael (RN) e, desde o ano de 1986, mora em São Sebastião - DF.

 Jornal Daqui: Desde quando você mora em São Sebastião e, do ponto de vista histórico, quais foram os principais acontecimentos da cidade?

LIRA:  Desde o ano de 1986, quando São Sebastião ainda era chamada de Agrovila e totalmente dependente do Paranoá. Vivíamos de pires na mão. Se quiséssemos um caminhão de cascalho ou qualquer outro benefício tínhamos que nos humilhar para o administrador de lá. Os ônibus da TCB só circulavam duas vezes ao dia, um no período da manhã e, o outro, no período da tarde. Era uma vida de muito sofrimento. Sem contar, também, que a população não dormia direito por causa da pretensão do GDF de construir a barragem do rio São Bartolomeu que, caso tivesse ido adiante com o seu projeto, teríamos saído daqui sem direito a nada, já que, para o governo, éramos todos invasores. Foi aí que tomei a iniciativa de criar a Comissão Pró Independência para lutar por uma administração própria e também para impedir a construção da barragem. Foram anos de luta, até que, em junho de 1993, por causa da pressão popular, o governo sancionou a Lei de nº 167/93, criando a Região Administrativa de São Sebastião – RAXIV, para alívio de todos os moradores.

Jornal Daqui: Depois de criada a RA-XIV, quais foram os principais problemas enfrentados pela população e o que foi feito para solucioná-los?

LIRA: Muitos! A começar pela falta de infraestrura, saneamento básico e moradia. Lembro-me, por exemplo, que tivemos que nos organizar em forma de associações de bairros para cobrar do governo as benfeitorias. Toda vez que o governador se fazia presente na cidade, lá estávamos nós, as lideranças comunitárias, com as nossas faixas e cartazes cobrando água potável, asfalto, iluminação pública e segurança. Problemas estes que até hoje não foram solucionados por completo por causa do crescimento desordenado da cidade. Fundei e ajudei a fundar diversas associações na comunidade, dentre elas, a Associação de Moradores do Bairro Vila Nova (AMVNO), Associação de Moradores do bairro Bela Vista e a Prefeitura Comunitária do Bosque, que serviram de instrumentos de pressão junto ao governo. Grande parte das nossas reivindicações foi atendida graças à união das lideranças comunitárias e, sendo assim, sinto orgulho de ter sido uma delas. O mote daquela época era: “um por todos e, todos por um”! Assim, dessa forma, conseguimos muitas coisas para a nossa cidade.

Jornal Daqui: Quais são as suas principais preocupações com a cidade de São Sebastião atualmente?

LIRA: São com as invasões e com os parcelamentos irregulares de terras públicas que fazem com que a cidade cresça de maneira desordenada e sem espaço para a instalação de equipamentos públicos como creches, escolas e hospital. Também tem o problema da falta de infraestrutura, saneamento básico e urbanização em bairros como o Morro da Cruz, São Gabriel, Bela Vista, Capão Cumprido, Vila do Bôa, Condomínio Itaipú e Residencial Vitória. A área rural é outro exemplo de preocupação, onde as estradas estão péssimas e, a exemplo da área urbana, também sofre com a falta de transporte. Os problemas, na verdade, sempre existiram e vão continuar existindo, independentemente de quem esteja à frente do governo. Mas se eles existem, deve haver, também, a solução dos mesmos e, para isso, se faz necessário que o governo invista consideravelmente em obras de pequeno e grande porte por toda a cidade. Os engarrafamentos em frente do balão da ESAF tende a aumentar cada vez mais, principalmente com o surgimento de novos bairros. A solução, neste caso, é a construção de viadutos e de galerias subterrâneas ligando o Lago Sul ao bairro Jardim Botânico.

Jornal Daqui: A sua luta pela moradia continua? E o que foi feito dos bairros Crixá e Nacional?

LIRA: A cobrança por moradia popular é muito grande e o governo, por sua vez, não tem acompanhado a demanda da população como deveria. Há 12 anos atrás eu tive a ideia de criar os bairros Crixá, Nacional e Dom Pedro II, voltados para os inquilinos de São Sebastião e para as polícias civil e militar mas, infelizmente, sofri todo tipo de perseguição por defende-los. E o governo anterior, ao invés de abraçar a ideia, fez foi doar as áreas destinadas aos bairros para chacareiros de Samambaia e para a Olaria Icena, de forma ilegal. Entrei na justiça contra o GDF com base na Lei de nº 401\2001. O atual governo publicou edital para contratar, por meio de licitação, a empresa que vai construir os prédios, através do programa Minha Casa, Minha Vida. As novas unidades habitacionais serão destinadas às famílias que ganham entre zero e três salários mínimos. Eu sempre deixei claro, nas minhas reuniões, que elas seriam entregues através da lista da CODHAB e não por meio de cooperativas. Estou com a minha consciência tranquila quanto a isso porque fiz e continuo fazendo a minha parte. Já o bairro Dom Pedro II foi implantado com o nome de Jardins Mangueiral, através do Programa Morar Bem, mas voltado para a classe média. Mas como as pessoas mais humildes precisam de um lugar para morar, se sentiram obrigadas a invadir área pública ou comprar lotes de grileiros, por falta de opção. E o governo, por sua vez, fez vista grossa e, agora, não lhe resta outra alternativa a não ser regularizar a situação dessas famílias. Eu sou a favor do direito à moradia, mesmo que essa moradia tenha sido adquirida de maneira irregular como, por exemplo, as que foram adquiridas no Morro da Cruz e Capão Cumprido. Por isso sou totalmente contra a derrubada de casas nessas localidades e, no que depender de mim, irei fazer de tudo para proteger os moradores.

Jornal Daqui: Você acredita que São Sebastião tem potencial para eleger um deputado distrital¿

LIRA: Sim, com certeza! Da mesma forma que os sindicatos, igrejas e empresários se organizam para eleger os seus representantes, a população de São Sebastião também deve se organizar para eleger o seu deputado distrital e federal, para ter voz tanto na Câmara Legislativa quanto no Congresso Nacional. Mas para isso precisa focar em um único candidato da cidade e esquecer os de fora porque, do contrário, vai ficar mais quatro anos desamparada. Apesar da necessidade que temos de eleger um deputado, não significa, necessariamente, que temos que apoiar o primeiro que aparecer só porque é morador da cidade. Tem que ser alguém com chances reais de chegar lá e que tenha, além da ficha limpa, projetos e visão de futuro. Outra coisa que poderá nos atrapalhar em 2014 é a pulverização dos votos. Um ano antes das eleições os partidos políticos saem à caça de líderes comunitários com aspiração política para concorrem por suas legendas, mesmo sabendo que a maioria deles não tem a mínima chance de se eleger. Mas os votos deles servirão para eleger quem realmente o partido quer que seja eleito, no caso, o empresário ou o líder religioso que injetou grande quantidade de dinheiro na sigla. É o pequeno enchendo o balaio do grande. Se esse artifício é ótimo para os partidos, é péssimo para a cidade porque não consegue eleger ninguém! Os eleitores não devem votar numa pessoa que se candidatou por vaidade pessoal ou porque esteja fazendo o jogo dos partidos políticos, que precisam atingir o coeficiente eleitoral a qualquer custo. Por isso é importante que São Sebastião despeje os seus 55 mil votos em um único candidato da cidade para garantir, de fato, a eleição de seu representante.

Jornal Daqui: Você foi o candidato de São Sebastião mais bem votado nas eleições de 2010 e, em relação a 2014, pretende se candidatar novamente¿

LIRA: Envolvi-me com a política porque, como líder comunitário, os meus poderes eram limitados e não tinha como fazer mais pela comunidade. Vi que, como deputado distrital, poderia fazer muito mais. Por isso é que entrei para o mundo da política. Eu não me candidatei nas eleições de 2010 por vaidade pessoal ou para fazer o jogo de partido político, mas por necessidade da própria cidade de ter um representante na Câmara Legislativa. Em relação a 2014, diria que a tendência natural é me candidatar novamente, até porque não tem nada que me impeça de ser candidato. Se a comunidade achar que devo disputar mais uma vez a vaga de deputado, farei isso com o maior prazer. Me sinto muito mais preparado agora do que em 2010.

Jornal Daqui: Quais foram as benfeitorias que vieram para São Sebastião a partir das suas reivindicações¿

LIRA: Na condição de líder comunitário lutei para conseguir vários benefícios para a cidade de São Sebastião como, por exemplo, a criação da Administração Regional - RA-XIV; CAIC Unesco; Parque de Exposições Agropecuárias; Área de Desenvolvimento Econômico - ADE/PRÓ-DF; Transferência dos moradores da Área de Risco para o bairro Residencial Oeste; Criação dos bairros Crixá, Nacional e Dom Pedro II (Jardins Mangueiral); 30ª Delegacia de Polícia; Complexo Vivencial e Esportivo de São Sebastião (Vila Olímpica); Inclusão dos bairros Bela Vista, Residencial Vitória e São Gabriel no PDOT, dentre outros benefícios. O desenvolvimento de São Sebastião tem ocorrido gradativamente, ano após ano e desde quando ela foi transformada em cidade, em junho de 1993, e não no curto período de 2007|2010, como erroneamente quer nos fazer acreditar o ex deputado da cidade.

Jornal Daqui: Qual é a sua opinião a respeito das manifestações divulgadas por meio das redes sociais¿

LIRA: A princípio, justa, e as autoridades precisam ouvir a vós que vem das ruas. Mas precisa ter foco! E não adianta fazer manifestações contra o governo ou até mesmo promover uma revolução no Brasil se quem está à frente usar de estratégias equivocadas e a maioria dos eleitores continuar votando em candidatos descompromissados com a própria comunidade. Para a elite dominante quanto mais faminto e desinformado for o povo melhor! Mas, com o surgimento da internet e das redes sociais, a massa que antes dormia desperta, agora, para uma nova realidade, onde ela mesma processa e divulga as suas próprias informações em questão de segundos, para o desespero de quem está à frente do governo.

Jornal Daqui: Quais são as suas considerações finais¿

LIRA: Sou uma pessoa simples, temente a Deus e, acima de tudo, respeitador.  Dediquei grande parte da minha juventude à própria comunidade de São Sebastião. Essa foi uma das missões que Deus me concedeu aqui na terra para ajudar o próximo. Me julgo um homem de visão e que, muitas vezes, me antecipei no tempo para debater questões humanitárias e ambientais como, por exemplo, o fim das armas atômicas, preservação de nascentes, rios e matas ciliares. Sou grato a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, me apoiam nessa cidade. Tenho muitas ideias e projetos que, caso eu consiga colocar em prática, toda a cidade será beneficiada. Mas, para isso, irei precisar do apoio da população. Em outras palavras, São Sebastião precisa recuperar o seu nome e de alguém que, de fato, possa olhar para ela com carinho e dedicação.

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